Hoje minha família no nordeste tem o prato cheio e a cama quentinha"Meu plano é retribuir para a população a formação que o Estado me proporcionou"

Gabriela Dias Martins -
São Sebastião/Distrito Federal

Depoimento enviado em 08/10/2014

Sou Gabriela, 24 anos, assistente social. Também sou filha de nordestina, batalhadora, que encarou a fome na seca do nordeste, venceu o machismo e foi a primeira mulher a sair se casa, veio para Brasilia.

Tudo o que tinha no bolso era a esperança de um lugar no mundo menos sofrido para se viver. Minha mãe veio de uma comunidade serrana e rural de noites muito geladas sem nada para aquecer.

Pra mim, mais doloroso do que saber da fome, foi saber também do frio, sem roupas, camas e qualquer forma de cobertor para esquentar. Ela conta que a melhor parte do dia era quando levantavam de manhã bem cedo, tomavam “água quente com farinha” e se esquentavam trabalhando com a enxada na roça.

Dois anos depois nasci, já em Brasilia. Perdi meu pai com menos de um ano de idade. E minha mãe ficou desamparada: sem teto, sem trabalho, sem família por perto, sem comida, com uma filha nos braços, uma mochila nas costas e a solidariedade dos amigos. Fui no fora Collor, com 2 anos.

E desde então carregamos, nós duas, uma bandeira vermelha de estrela branca, como fonte que alimentava a nossa esperança de um futuro mais “seguro” para a gente. Porque ser pobre na década de 90 era viver de desemprego, inseguranças e incertezas.

Minha mãe, empregada doméstica, “mãe solteira” como dizem, me levou até a universidade como troféu de vitória pela sua luta. Eu já cresci numa era de mais direitos e estudei em escolas publicas a vida inteira.

E quando chegou no final do ensino médio, eu, cheia de sonhos, que adorava estudar, queria me formar, ser graduada. Minha mãe só queria poder me dar tudo que ela nunca chegou nem perto de ter e sofria ao pensar em como seria para mim dali pra frente. Eu era muito nova, tinha só 16 anos, ainda nem podia trabalhar.

Universidade Publica, na época, era um sonho inalcançável, que se fosse hoje, com as cotas, eu poderia chegar lá. O dia de mais alegria foi quando recebi a carta: o resultado do Enem e uma bolsa integral pelo ProUni na melhor universidade particular de Brasília. E lá fui eu ser assistente social.

A bandeira vermelha, assinada pelo Lula, brilhou e reluziu no nosso portão, mostrando para todos que nossa fé valeu a pena. Filha de empregada também pode chegar lá. Meu plano é retribuir para a população a formação que o Estado me proporcionou. Meu plano é lutar para que minha irmã e as próximas gerações que crescem nas periferias do Brasil possam também ter escolhas e oportunidades.

Hoje, temos uma casa, temos até um carro, luxo pra chamada “classe c”. E queremos muito mais que isso, queremos mais direitos garantidos. Hoje minha família no nordeste tem o prato cheio e a cama quentinha. O mandacaru virou fartura de alimentos para aqueles que viveram gerações de pobreza e sofrimento.

Hoje tem saúde, luz, água e até internet, lá na zona rural, aonde só se chegava de pau de arara. O que era sonho, virou realidade, alimentada pelo presidente operário e pela presidenta guerrilheira.

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