Dia foi marcado por agressão a estudantes e comunidade escolar, que manterão resistência

Por Vanessa Ramos e Luiz Carvalho via CUT em 02/12/2015

Como garantido em áudio que vazou no final de semana com a fala de Fernando Padula Novaes, chefe do gabinete do secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o decreto da “reorganização escolar”, que fechará mais de 90 escolas paulistas.

Diante desse cenário, que demonstra a incapacidade do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) em dialogar, alguns colégios amanheceram com viaturas da Polícia Militar na porta. Uma maneira de cumprir a estratégia de criar "ações de guerra", segundo palavras de Padula, em reunião com 40 dirigentes de ensino do Estado de São Paulo.

A Escola Estadual Maria José (Mazé), na Bela Vista, região central da capital paulista, recebeu visitas nada agradáveis pela manhã. A PM de São Paulo invadiu a escola, em companhia do diretor Vladimir Frank, que agrediu a estudante Lilith Cristina, 15, que prestou queixa na delegacia durante a tarde. 


Segundo a mãe da adolescente, a jornalista Katia Passos, a estudantes passou pelo Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito e a família entrará com processo jurídico contra o diretor. “Foi uma postura tirana de um educador de escola. Pelas vias legais iremos punir esta atitude violenta, agressiva e totalmente descabida, diante de uma ocupação legítima e de direito dos alunos”, afirma.

O estudante Alan Ferreira, 16, também foi agredido no local, mas pela Polícia Militar. Uma foto que circulou por veículos da grande imprensa mostra o aluno caído no chão com três policiais ao redor. Cerca de 30 pessoas viram e filmaram a brutalidade dos agentes públicos.

“Um policial me puxou por trás e me jogou no chão. Depois bateu na minha barriga e eu disse ‘eu não estou fazendo nada’. Ele me jogou spray de pimenta. Disse que eu havia batido no braço dele, mas eu não fiz isso. Logo depois, um policial me enforcou por uns oito minutos e levei botinadas na perna direita. Me bateram por bastante tempo”, relata.

Alan conseguiu sair da situação e se juntou aos amigos, numa roda de conversa. Ele também fará Boletim de Ocorrência. “Os policiais passaram, me viram e deram risada da minha cara. Agora já passou, mas senti medo”, diz, ao relatar ainda que o diretor agrediu não apenas Lilith, como quase atingiu com uma mesa uma estudante grávida que estava no local.

O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, esteve no local e criticou a atuação da polícia. "Os relatos dos estudantes são repugnantes. As ocupações são demonstrações de uma luta democrática e educação não é caso de polícia, mas a ditadura de Alckmin demonstra que o modo de governar é na pressão, na falta de diálogo e no desrespeito", diz.

À noite, os alunos da Mazé e de outras escolas ocuparam as ruas de São Paulo, em protesto pacífico contra a reorganização e a violência. A PM novamente agiu com truculência e uso de gás lacrimogênio para dispersar o movimento.

Segundo o fotógrafo Sérgio Silva, que registrava a mobilização dos jovens na noite desta terça (1º), na Avenida 9 de Julho, "quatro pessoas foram presas, incluindo dois menores de idade, por estarem presentes em protesto contra a reorganização escolar. A menor que aparece na imagem, sendo levada pelos braços, foi acusada de depredação ao patrimônio público, no caso, a cadeira que esta na mão do policial", relata.




Ocupar e resistir

Na zona Leste de São Paulo, estudantes estão acampados desde o dia 17 de novembro, na Escola Estadual Moacyr Campos. Barracas de todas as cores mostram a diversidade dos jovens que têm em comum a resistência, mesmo diante das pressões cotidianas, como nas noites em que policiais chegam ao local, exigem documento de ao menos um aluno, perguntam se estão quebrando a escola e quantas pessoas têm na ocupação.

A estudante Thalia Fuster acredita que uma educação pública, gratuita e de qualidade deve ser construída com a participação da juventude. “Percebemos a dificuldade do ensino e somos contra esta reestruturação. Ocupamos em solidariedade às escolas que serão fechadas e sabemos que haverá uma superlotação das salas de aula se isso acontecer. Permaneceremos na luta até que Alckmin retroceda”.

Ex-aluno da escola, Samuel Oliveira, 18, se soma ao movimento e acredita que as conquistas virão para esta e as futuras gerações. “Estamos cuidando da escola, queremos que ela seja uma escola ainda melhor”, explica, ao contar que saraus, incentivo ao esporte, reciclagem de materiais, dinâmicas, conserto de carteiras quebradas e cuidados com os jardins estão sendo feito pelos próprios estudantes.

Nesta quarta (2) haverá uma reunião, a partir das 7h30, com os estudantes que ocupam a escola e toda a comunidade escolar, incluindo o diretor da unidade. Será na Rua Engenheiro Guilherme Cristiano Prender, altura do nº 500.

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