Não aos corruptores! Ao invés de atacar apenas os efeitos é preciso expropriar os cartéis causadores da corrupção. Não aos corruptores!

O esquema de corrupção do “Propinoduto tucano” (como foi chamado) mostrou-se como a ponta de um iceberg muito maior e mais sólido do que um simples erro ocasional de pessoas colocando em xeque várias questões de fundo do funcionamento da sociedade. Trata-se de um verdadeiro paradoxo de Zenão: quanto mais se aproxima das informações do esquema de corrupção, mais distante da totalidade de esquemas nos deparamos, devido à sua multiplicidade quase infinita. Segundo reportagem realizada pela revista IstoÉ sobre o “propinoduto”, o esquema pode-se resumir do mesmo modo que todos os outros escândalos de corrupção: um cartel de empresas se unem para ganhar licitações de modo ilícito.

Assim ocorreram as últimas licitações do metrô de São Paulo e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Antes ou durante o processo licitatório, essas empresas faziam acordos para superfaturar os projetos (em pelo menos 30% a mais)  e com base nesse excedente repassar propinas aos executores de vários níveis para garantir a vitória do cartel pagador. No caso, tanto diretores do Metrô, da CPTM, como políticos do PSDB ligados diretamente ou não ao governador Geraldo Alckmin.

Como diz a reportagem, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) “detectou flagrante sobrepreço está o de fornecimento e instalação de sistemas para transporte sobre trilhos da fase 1 da Linha 5 Lilás do metrô paulista. A licitação foi vencida pelo consórcio Sistrem, formado pela empresa francesa Alstom, pela alemã Siemens juntamente com a ADtranz (da canadense Bombardier) e a espanhola CAF.” E acrescenta:  “Os serviços foram orçados em R$ 615 milhões. De acordo com testemunhos oferecidos ao Cade e ao Ministério Público, esse contrato rendeu uma comissão de 7,5% a políticos do PSDB e dirigentes da estatal. Isso significa algo em torno de R$ 46 milhões só em propina.”

Em somente 16 contratos analisados até então, segundo análise do CADE e do Ministério Público, o desvio de dinheiro público já chega ao montante de R$425 milhões. Sendo que, segundo relatos de um funcionário da Siemens “durante muitos anos, a Siemens vem subornando políticos, na sua maioria do PSDB, e diretores da CPTM.”
Quantos anos exatamente não se sabe ainda; mas PSDB com os governos FHC a nível federal e Covas/Serra/Alckmin pode dar  pistas do tamanho da ficha corrida de esquemas. A privatização da Vale, da telefonia, da educação movimentaram bilhões; significaram uma transferência de patrimônio público de setores altamente lucrativos a mãos privadas através destes artifícios.
Sendo a privatização ela própria em si um ato de corrupção, pois governantes públicos eleitos atuam contra o interesse público favorecendo empresas internacionais.

Sistema corruptor
Que PSDB seja ruim e corrupto, praticamente ninguém mais questiona, exceto os diretamente interessados. Que o Congresso, a Polícia Militar, a Veja, a Globo sejam corruptas não pode restar dúvidas após dezenas de casos que aparecem à superfície todos os dias.
Mas o que seria corromper? Seria o ato de comprar, subornar, perverter, tornar falso. E então fica a pergunta, poderia haver capitalismo sem corrupção? Se a base do capitalismo está em produzir algo não pela sua utilidade, mas pelo lucro que disso decorre; se o capitalismo se define por não atender as necessidades humanas, mas do próprio capital em se autoreproduzir-se.

Se ao invés do trabalho é a troca através do dinheiro que prevalece acima de todos os demais, torna-se evidente que a corrupção é inerente ao capitalismo, é um efeito lógico da sua existência.
Ainda mais numa sociedade altamente dividida e desigual como o Brasil. Pois, um punhado de pessoas detém em suas mãos valores superiores ao da soma de milhões de outros. Esses despossuídos por sua vez para sobreviver necessitam em sua maioria seguir os interesses dessa minoria, para obter o dinheiro que será meio para troca de produtos esses sim necessários a existência humana.

Ou seja, a criação de leis contra corrupção e corruptos (como por exemplo a lei da ficha limpa) poderia minimamente resolver o problema? Retirar os políticos corruptos em sua totalidade do governo poderia minimamente tornar-se um paliativo? Se afora as dezenas de corruptos já citados dos partidos burgueses, existe uma ampla massa necessitando o que a corrupção tem a oferecer: dinheiro?
Fica assim patente que retirando uma dezena de corruptos, duas dezenas se ofereceriam para corromper-se pela metade do valor. Afinal, o capitalismo é um sistema que produz corruptores e a corrupção é endêmica ao capitalismo. E se o Estado burguês não é senão um balcão de negócios burgueses, é óbvio que trata-se de alvo prioritário.

 Não aos corruptores! Expropriação já das empresas!
Atacar os efeitos ao invés das causas nunca é uma boa medida. Na política, ainda mais. Pois quando se volta aos efeitos, as causas tornam-se ainda mais eficazes.
Quando se ataca os corruptos, os corruptores ganham tempo para tornar seus esquemas ainda mais complexos. Aproveitam a luz em cima dos corruptos, para continuar pelas sombras.  Se for necessário, promovem eles mesmos denúncias contra um setor para atuar em outro.

Não se trata do bem contra o mal. Trata-se da necessidade dos capitalistas de abocanhar o patrimônio público para manter seus lucros. Ou seja, as empresas unidas em cartéis necessitam da corrupção para sobreviver. Moraliza-las seria impossível, pois isso significaria sua própria destruição.
E no confronto de forças entre cartéis bilionários e indivíduos, com uma desproporção de tal calibre obviamente senão um, outro cederá aos interesses dos capitalistas.

Lutar contra os corruptos é não lutar contra o problema que decorre da corrupção; tal como no caso do metrô. Pode-se punir os corruptos, mas as empresas que detem a força capaz de corromper e necessita disso para manter-se continuará em ação.
Nesse sentido, a única alternativa capaz de produzir um efeito real é punir os corruptores: punir os cartéis que utilizam sua força econômica contra a população; a única punição possível é retirar-lhes o que roubaram da população, é expropriar os seus bens e devolver-lhes ao público, ao interesse público.

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