Em editorial, publicado
no dia 31 de agosto, o jornal da família Marinho, O Globo, reconheceu
que foi um erro ter apoiado o golpe militar de 1964, como o fizeram
também todos os grandes jornais do país.
Seriam sinais de novos tempos na Globo? Nem o mais ingênuo dos mortais acredita nessa possibilidade.
O apoio ao golpe militar
não foi um ato isolado. Ela apoiou, incondicionalmente, os 20 anos de
ditadura em nosso país. Em dezembro de 1968, renovou seu apoio ao
governo ditatorial, tornando-se conivente com o Ato Institucional número
5 (AI-5). As prisões políticas, os exílios, casos de torturas e
assassinatos de militantes políticos não mereceram uma linha de repúdio
ao governo militar, nos noticiários da família Marinho.
Apoiou a ditadura
militar e dela se beneficiou. Armando Falcão, um dos ministros da
Justiça da ditadura militar, se referia ao dono da Globo, Roberto
Marinho, como o “mais fiel e constante aliado”. Desse conluio com a
ditadura, nasceu o império que monopoliza as comunicações no país e
abarrotou os cofres da família Marinha com uma fortuna de R$52 bilhões
de reais.
Fortuna que tem na sua
origem na aquisição, fraudulenta, da antiga TV Paulista pela quantia Cr$
60.396,00 (sessenta mil, trezentos e noventa e seis cruzeiros),
equivalente à época a US$ 35,00 (trinta e cinco dólares).
Não faltam provas sobre falsificação de documentos e outras ilegalidades cometidas por ×Roberto Marinho para se apoderar da TV Paulista, fato exitoso por causa do conluio que mantinha com o governo da ditadura militar.
Os descendentes da família proprietária da Rádio Televisão Paulista S/A e dos 670 acionistas que foram lesados por ×Roberto Marinho movem um processo contra a Globo, que se encontra no STF e tem como relator o ministro ×Celso
de Mello. Mas ao contrário da energia que demonstra para atacar o
ex-ministro petista José Dirceu, o decano da corte não apresenta nenhuma
pressa para julgar o recurso dos que foram lesados pela família
Marinho.
A mesma postura, de
silêncio conivente, foi adotada com as ditaduras militares que
espalharam pelo continente latino-americano nas décadas de 1960 e 1970. E
se repetiu, com indisfarçável simpatia, nos golpes de ×Estado
que depuseram presidentes de repúblicas, democraticamente eleitos pelo
voto popular, como o do Jean-Bertrand Aristide (Haiti), em 1991, Manuel
Zelaya (Honduras), em 2009 e Fernando Lugo (Paraguai), no ano passado.
Está no DNA da ×Globo apoiar governos reacionários, golpistas e antidemocráticos.
Seu reacionarismo
continuou em evidência quando, em 1984, o povo brasileiro foi às ruas
para exigir eleições diretas para o cargo de ×Presidente
da República. Somente mudou de postura quando o grito das ruas — “o
povo não é bobo, abaixo a rede globo” — tornou-se ensurdecedor.
Dois anos antes, em 1982, envolveu-se com a empresa ×Proconsult, associada a antigos colaboradores do regime militar, na tentativa de impedir a vitoria eleitoral de ×Leonel Brizola ao governo do ×Rio
de Janeiro. Na eleição de 1989, notabilizou-se pela edição manipulada
dos seus noticiários, responsável pela vitória eleitoral de ×Fernando Collor
de Melo. Em 2010, foi bizarra a encenação de uma bolinha de papel na
testa do candidato José Serra, numa vã tentativa de provocar a derrota
da candidata Dilma Roussef. Há de se admitir que a Rede Globo conseguiu
cavar um lugar próprio e cativo nos processos eleitorais do país.
Da mesma forma, quando
for contado a história da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no
julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão petista, a Rede Globo
terá um lugar de destaque superior a muitos juízes integrantes da Corte.
Desde que o STF aceitou a
denúncia, porque “julgou com uma faca no pescoço”, nas palavras de um
dos seus integrantes, tornou-se evidente os seus esforços para que o
resultado do julgamento fosse o que atendesse a seus interesses
políticos. Concessão de prêmios para ex-juízes do STF, silêncio
conivente sobre possíveis crimes cometidos por membros e pessoas
próximas aos que vestem as togas, ofertas de empregos para parentes de
atuais integrantes da ×Corte,
espaços fartos em noticiários e reportagens favoráveis aos que votam e
se posicionam como seus colunistas escrevem, são apenas os indícios mais
visíveis da fina sintonia do que acontece na AP 470 com os desejos dos
que monopolizam a comunicação no país.
Juízes teleguiados,
escreveram alguns jornalistas independentes, juízes que assumiram papéis
de justiceiros, escreveram outros. Não faltaram os que se notabilizaram
por memoráveis afirmativas tais como: a verdade é uma quimera ou não há
provas mas a literatura jurídica me permite condená-lo. Tudo para não
contradizer o script de um resultado predeterminado pela mão de quem
segura a faca no pescoço.
Com este histórico de
uma origem nascida com a ditadura militar e sobre negócios fraudulentos,
de ataques aos processos de eleições democráticas, de criminalização
dos movimentos sociais e sindicais e de tentativas de subordinar os ×Poderes
do Estado aos seus interesses, só resta à Rede Globo promover,
anualmente, a campanha “Criança Esperança” para tentar limpar sua
própria imagem. Busca fazer caridade com o dinheiro que arrecada das
outras empresas e de doações individuais. Enquanto ela mesma sonega uma
quantia superior a R$1 bilhão de reais, em impostos devidos a Receita
Federal. Tudo a ver com a Rede Globo.
A Revista Veja e seu pacto com a ditadura
A Veja e seu histórico de edições contra o PT
Por
que será que hoje a Revista Veja evita, até nos momentos mais
marcantes, falar de certos temas que vão contra os seus interesses? Essa
prática é recorrente com temas de âmbito político e social, entretanto,
não é o mais sombrio de seus recursos.
Desde
sua fundação em 1968, a Veja abusou do verbo para demonizar seus
inimigos ante a opinião pública. Isso fica evidente quando observamos as
edições mais distantes do presente, uma simples leitura das capas da
revista durante a Ditadura Militar pode se absurdamente reveladora. Isso
me levou à fonte primária , o próprio acervo digital de sua obra
(http://veja.abril.com.br/acervodigital/), para buscar algumas das capas
mais evidentes sobre o apoio escancarado da revista aos golpistas
militares. As palavras revolução e terrorismo representam o antagonismo
de duas vertentes políticas.
Veja as capas:
A Folha de São Paulo reconhece, décadas depois, que colaborou com ditadura e colocou policiais na redação de um jornal do grupo
Amigos do blog, o texto espantoso que reproduzo abaixo e que, confesso, tinha me escapado, foi publicado na Folha de S. Paulo sobre os 90 anos do jornal.
Sob o título “Os 90 anos da Folha em 9 atos”, é um resumo, a cargo do competente jornalista ×Oscar Pilagallo, no qual a Folha pela primeira vez assume a sua colaboração com a ditadura, algo que os meios jornalísticos sabiam de sobra na época, mas que o jornal, hoje palmatória do mundo e dono da verdade, nunca assumiu.
Com uma confissão que, repito, muitos jornalistas conheciam na época, mas que hoje soa inacreditável: a empresa entregou a hoje extinta Folha da Tarde diretamente a agentes da repressão (inclusive colocando meganhas na redação), para, supostamente, reagir à “inflitração” da organização armada Aliança Libertadora Nacional (ALN) e de seu dirigente, Carlos Marighella, no jornal.
Quer dizer que, para rebater uma suposta infiltração da extrema esquerda totalitária, a empresa que edita a Folha de S. Paulo adotou a espantosa, desatinada decisão de entregar a edição da tarde para agentes d
os órgãos de segurança, que agora chama eufemisticamente de “jornalistas entusiasmados com a linha dura militar”!
Que jornalistas, cara-pálida??? Amigos e colegas que trabalham no grupo ×Folhas na época podem atestar quem e como eram.
A Folha também reconhece, candidamente, que se submeteu à censura e às proibições do regime, “ao contrário do que fizeram o Estado [o jornal O Estado de S. Paulo], a revista VEJA e o carioca Jornal do Brasil, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.”
Ao lado de meu espanto, devo registrar aqui a honestidade da atual direção do jornal em reconhecer, ainda que tardiamente, esses fatos.
Leiam o trecho do texto em que se narra a atitude do jornal diante da ditadura, e tirem suas próprias conclusões:
“4 – O PAPEL NA DITADURA
A Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o Estado, mas apoiou editorialmente a dita
dura, limitando-se a veicular críticas raras e pontuais.
Confrontado por manifestações de rua e pela deflagração de guerrilhas urbanas, o regime endureceu ainda mais em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. O jornal submeteu-se à censura, acatando as proibições, ao contrário do que fizeram o Estado, a revista VEJA e o carioca Jornal do Brasil, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.
As tensões características dos chamados “anos de chumbo” marcaram esta fase do Grupo Folha. A partir de 1969, a Folha da Tarde alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes que exaltavam as operações militares.
A entrega da Redação da Folha da Tarde a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), de ×Carlos Marighella, um dos ‘terroristas’ mais procurados do país, morto em São Paulo no final de 1969.
Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio da Folha da Tarde à repressão contra a luta armada.
Segundo relato depois divulgado por militantes presos na época, caminhonetes de entrega do jornal teriam sido usados por agentes da repressão, para acompanhar sob disfarce a movimentação de guerrilheiros. A direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins.”
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