Segundo o senador pelo Amapá, “nem todos têm condições de atuar como julgadores de Dilma neste Senado”. Para ele, impeachment é “encenação grotesca para cobrir falta de cultura democrática”

por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 09/08/2016 17:30, última modificação 09/08/2016 18:00

Agência Senado
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                             Capeberibe: Preço do impeachment recai sobre trabalhadores

Brasília – O plenário do Senado, na sessão de hoje (9), que vota a pronúncia do impeachment, viveu um momento de surpresa com a declaração do voto e discurso proferidos por João Capiberibe (PSB-AP).

O parlamentar tinha votado pela admissibilidade do impeachment de Dilma em maio. Mas ao mesmo tempo, tem um passado de história na luta contra a ditadura civil-militar e foi preso político na mesma época que a presidenta afastada Dilma Rousseff, motivo pelo qual sua postura suscitava dúvidas.

Em um discurso duro, ele disse que muda seu voto e é contra o impeachment, “pela democracia”. Afirmou, ainda, que “o impeachment é nada mais que uma encenação grotesca para cobrir a nossa falta de cultura democrática”.

O senador já tinha dito, no final do mês passado, que sua posição poderia ser outra em relação ao voto dado em maio. E nas últimas semanas, vinha se mantendo recolhido e evitando dar declarações à imprensa.

Sua declaração de voto contra o afastamento foi comemorada de forma discreta pelos parlamentares que apoiam a presidenta no plenário – primeiro, para não quebrar o decoro da sessão. Em segundo lugar, para não vibrar antes da hora. Mas o certo é que foi tido como fator positivo para a votação em favor de Dilma Rousseff.

Espera-se, a partir de agora, que venha a tomar posição semelhante o senador José Carlos Valadares (PSB-SE), por integrar o mesmo partido e por ser outro que demonstrou estar em dúvida em relação ao impeachment.

A posição oficial do PSB continua sendo pelo afastamento da presidenta. Um dos principais capitães dessa corrente é o ex-ministro da Integração de Dilma Rousseff, senador Fernando Bezerra Coelho (PE).

Outra dúvida aguardada pelos parlamentares dos dois lados – pró e contra o impeachment – e que pode mudar a condução dos votos na sessão, diz respeito à posição do senador Otto Alencar (PSD-BA). Ele também demonstrou indecisão nos últimos dias quanto à forma como irá votar na sessão, e vem sendo cortejado como uma noiva, tanto por integrantes do seu partido, o PSD, como pelo PMDB, para votar pelo impeachment.

Alencar também foi convidado para sentar e participar de reuniões com representantes da bancada do seu estado, a Bahia, para votar de forma contrária ao afastamento da presidenta. Segundo integrantes do PT, deu um sinal de que tem possibilidade de mudar o voto ontem, depois de ter participado de solenidade ao lado do presidente interino Michel Temer e não ter manifestado qualquer declaração antecipada a respeito.

 

Novo ânimo


A posição de Capiberibe deu novo ânimo aos parlamentares da base aliada da presidenta afastada, que ficaram chocados com as declarações feitas na última semana pelos senadores Cristovam Buarque (PPS-DF) e Lúcia Vânia (PSB-GO). Os dois diziam, igualmente, que também estavam analisando sobre a forma como iriam votar, mas declararam ser favoráveis ao afastamento da presidenta.

No caso de Capiberibe, ele foi didático em seu discurso. “Nem sei por onde começar, senhor presidente, porque a marcha da insensatez que caminha no país, avança sem chegar a porto algum.

O impeachment não resolve a crise, ao contrário a aprofunda”, afirmou, dirigindo-se ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que preside a sessão. "Quem vai pagar o preço do impeachment serão os trabalhadores e as pessoas que conseguiram ter certa ascensão social, mas, por conta da crise economia, tiveram de retornar ao estado de pobreza de tempos atrás", acrescentou.

O parlamentar disse que a sociedade está dilacerada e perdendo o rumo e ele, ao lado de alguns colegas, bem que tentou conversar, meses atrás, com representantes dos dois grupos políticos, pró e contra o impeachment. “Infelizmente não deu certo, pois os senadores com quem procuramos buscar um diálogo só disseram e escutaram o que quiseram e não foi possível encontrar um termo em comum.”

Capiberibe ainda pisou no calo dos colegas que possuem processos na Justiça e afirmou que “nem todos preenchem a exigência feita de serem julgadores de um processo de impeachment porque estão envolvidos ou são réus em casos no Judiciário”. Sendo assim, acrescentou que não poderiam atuar como juízes num processo importante para o país como estão atuando.

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