Por Ion de Andrade via GGN em 10/03/2016
O juiz Moro não é um homem qualquer, dado a improvisos. A condução coercitiva de Lula, ilegal que é, teve como argumento público o fato de que os demais 116 depoentes antes dele também haviam sido conduzidos coercitivamente. Então, como poderia Lula querer ser tratado de forma diversa?
Este detalhe significa que cada um dos 116 depoentes cujas conduções coercitivas precederam à do ex-presidente estavam, na verdade, um a um, preparando e encenando o cenário da sua prisão. Tudo ali foi fruto de planejamento longo e minucioso, exceto o desenlace.
A prisão de Lula pretendia criar o ambiente de aniquilação da esquerda, sendo na verdade a conclusão da grande primeira etapa da Lava Jato. Durante toda essa primeira etapa, a direita tradicional, mais suja do que pau de galinheiro, festejou cada capítulo da trama, elevando o juiz Moro a uma condição de nobreza sobrenatural.
Essa direita tradicional, os coronéis de sempre, pode, no entanto estar muito enganada com o que está no fogo.
Rifado, Fernando Henrique já descobriu que não é ele ou o PSDB quem tem poder de mando sobre o rumo dos acontecimentos no Brasil de hoje. Farejando o fascismo propõe grande mutirão rumo a um “semiparlamentarismo equilibrado” e reconhece, “cartas na mesa” que o problema não é de Dilma ou Lula, mas institucional.
O Ministro Marco Aurélio Mello, por sua vez, exprimiu preocupações com um autoritarismo de tipo novo; palavras dele: “Se um ex-presidente é tratado assim, como será tratado o cidadão comum?” e arremata, “até o Regime de Exceção observava a norma”.
A Norma da Lava Jato é o juiz Moro. Muito próximo aos círculos do PSDB transmite-lhes sensação de tranquilidade, um risco, pois é um predador.
Não sabemos se a Lava Jato conseguirá eliminar a figura de Lula do cenário da política, prendendo-o ou condenando-o. Não sabemos se o STF entendeu a gravidade dos fatos e cumprirá o seu papel de garantidor do ordenamento constitucional, como é da sua obrigação, pondo limites aos excessos ou avocando para si os processos da Lava Jato, como sugere Bresser Pereira. Além disso, não podemos calcular qual é a capacidade de resistência das nossas instituições a um fenômeno político novo e nunca experimentado pelo Brasil, o risco do totalitarismo dotado de ideologia orgânica: o fascismo clássico.(*)
O que se pode constatar, entretanto, pois é claro como o dia, é que a credibilidade que o juiz Moro acumulou junto a uma certa direita tradicional a deixa inteiramente vulnerável a uma investida sua. Se isso ocorrerá ou não depende hoje, apenas e tão somente, de uma decisão de fórum íntimo sua, que independe de Aécio, de Alckmin ou de FHC. Sublinhe-se, porém, que, preso Lula, esses personagens serão as presas mais gordas da pradaria. Há uma foto que tem circulado nas redes sociais onde Moro e Aécio sorriem com cumplicidade. Quem engana quem?
Se os atacar com metade da força que vem utilizando contra a esquerda, poderá emergir como o personagem que transcendeu à política: o salvador da pátria.
Lula, o líder operário contra quem se erguem denúncias de corrupção incompatíveis com os postos que ocupou, por míseras que são, pode ser o último ferrolho do Estado de direito. A presa a ser abatida como condição prévia à abertura da temporada de caça ao tucano e ao surgimento do Conddotieri.
O timing disso tudo não é 2016, é 2018, razão porque é mais importante tirar Lula do pleito do que derrubar Dilma. A pergunta que cabe é: por que é que é que o juiz Moro tiraria Lula para os outros? Por que ambicioso e determinado como é entregaria a presidência a outrem? Há pois forte chance de que esteja trabalhando para si.
A bola da vez no plano da vulnerabilidade agora são os ícones da direita tradicional. E a Lava Jato precisa reforçar a sua credibilidade. Arruinada com o que fez a Lula, politizou-se e perdeu isenção perante a maioria dos brasileiros, o que é fatal no judiciário.
Se atingirá os conservadores ou não, logo veremos. Se assim o for, devemos exigir, militantemente, que tenham seus direitos e garantias respeitados. Não podemos permitir tampouco que a Lava Jato, se vier a caçar tucanos, capitalize prestígio no nosso lado, quando na realidade estará, apenas, treinando o falcão para o certame de 2018.
Vamos imaginar, entretanto, que todo o raciocínio que eu teci até aqui esteja errado e que o juiz Moro não aspire a caçar tucanos. Nesse caso a Lava jato continuará o mergulho que já iniciou e estará completamente desmoralizada num par de semanas, o clima atual é de implosão.
A conclusão é óbvia. Se quiser sobreviver o juiz Moro terá que abrir a temporada de caça ao tucano, possivelmente antes até de ter dado conta de Lula. Por sua vez a prisão de Lula oficializaria a referida temporada de caça ao tucano, encerrando com grande sucesso a temporada de caça ao PT. Se não forem burros (é pedir demais, eu sei) os tucanos verão que a prisão de Lula é antes de tudo uma ameaça a eles... mas que situação!!!
Em outras palavras, o desastre da tentativa de prender Lula ofereceu ao tucanato e ao restante da direita tradicional uma oportunidade única de perceber que são inexoravelmente o próximo alvo, ou a Lava Jato se desmoralizará por completo. Tudo deveria ter acontecido rápido o suficiente para que, engaiolado Lula, se iniciasse, como um raio, a temporada de caça ao tucano com alguém de elevada plumagem. Mas Lula tem sorte. E a sorte de Lula permitiu que surgisse à luz do dia um irreconciliável conflito de interesses entre o juiz Moro e o PSDB. FHC já experimentou do veneno e Aécio começou a farejar.
Cabe perguntar: quem cai primeiro?
*Dizia Gramsci que o totalitarismo fascista se exprime com jus arbitral entre as classes fundamentais. O fascismo encarna uma espécie de nova totalidade de onde pretende pairar acima delas. Possuidor de uma ideologia orgânica própria alinha o conjunto da sociedade a sua verdade e é uma espécie de “democracia” macabra, pela qual a “maioria” esmaga a(s) minoria(s). que foram despojadas dos seus direitos.
Nossa, menina> Acho que voce viajou. O que acho é o que eu vejo. A lava jato e o morro são pequenos instrumentos de uma força muito maior. No que cumprir sua função de esmagar as últimas esperanças da esquerda, vai descartar o juizinho como camisinha usada. Quem aqui ainda lembra de um tal de Juiz Joaquim Barbosa? Era até pra sair presidente junto com a Dilma.
ResponderExcluirNossa, menina> Acho que voce viajou. O que acho é o que eu vejo. A lava jato e o morro são pequenos instrumentos de uma força muito maior. No que cumprir sua função de esmagar as últimas esperanças da esquerda, vai descartar o juizinho como camisinha usada. Quem aqui ainda lembra de um tal de Juiz Joaquim Barbosa? Era até pra sair presidente junto com a Dilma.
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