Por Fernando Brito via 247 em 16/12/2015

O povo brasileiro – o povão, esse esquecido – está silencioso e sofrido.
Não quer perder as duas coisas que tem, talvez sem percebe-lo, seus sonhos e seus direitos.
Como os tiraram dele, tantos anos, tantas vezes, tão perversamente, sob mil pretextos.
Um deles, recorrente, a “moralidade”.
O “mar de lama” de Getúlio Vargas, onde os coronéis do Galeão se faziam de promotores de Curitiba.
As senhoras carolas das “marchas com Deus”, fazendo às vezes do fundamentalismo evangélicos, com os padres que como certos pastores, hoje, se erigiam em Deus e bradavam condenações ao Inferno.
Depois, a caça aos marajás, curiosa caçada onde as presas apoiavam, sustentavam e votavam no caçador…
Cada um destes episódios custou sacrifícios ao povo brasileiros e roubou-nos anos de nossa caminhada àquilo que estamos destinados a ser, pela nossa imensidão e e nossa riqueza que – como a taça de Thor que se ligava ao oceano – não se esgota por mais que nos a suguem.
O que lhes deu vitórias e ao povo, derrotas?
Sim, claro, o controle do dinheiro, dos meios de comunicação e das elites político-parlamentares que dependem dos dois primeiros.
Os pecados reais, sim, também, porque o exercício do poder não apenas faz crescer cogumelos à sua sombra, mas amolece vontades, mentes e princípios de muitos, porque o mundo da luzidia imundície das elites é sedutor, um sorvedouro para quem não se ancora no amor a seu povo.
A muitos, pode fazer isso. A outros, não. Ao povo, nunca.
Nas grandes crises, só ele pode se salvar. Não nos salvar, mas se salvar, porque é a ele a ameaça.
E para esta à altura do povo é preciso pensar grande, sair do mundo das miudezas em que tendemos a viver, olhando detalhes, aumentando senões, criando ressalvas, disputando espaços. Pouco importa que haja uma pequena razão em cada um destes atos; se eles são só o que nos preocupa, apequenamo-nos.
Não é um governo, um partido, um talvez candidato o que está em jogo. Tomara que os próprios petistas o entendam.
É um país e seu povo, que não querem voltar ao passado e menos ainda que as imundícies que se faziam às escondidas sejam, agora, elevadas a forma de governo.
Fui ler, hoje cedo, o que escrevia Victor Hugo em outubro de 1870, quando Paris estava sitiada pela Prússia, na iminência de ser vencida.
Pensei nos deveres de minha geração, que cresceu sob o golpe, que teve de buscar a luz entre as trevas da ditadura, a luz que deveria normalmente nos banhar todos os dias .
Quem não puder sair do pequeno e perceber que somos elos de uma corrente que transmite a força destes desejos que formam a história, será  apenas uma pequena pedra, jamais uma muralha:
“Qual é o problema de hoje? Combater. Qual é o problema amanhã, de todos os dias? Morrer. Não vos volteis para o outro lado. A lembrança que tu deves ao dever se compõe do esquecimento de ti próprio. (…) Não há mais personalidades, não há mais ambições, não há mais nada nas memórias que estas palavras: salvação pública. Somos agora um só francês, um só coração: só há um cidadão que sois vós, que sou eu, que somos todos nós. Onde houver uma brecha, aí estarão nossos ombros. Resistência hoje, libertação amanhã: tudo está aí. Não somos mais de carne e sim de pedra. Eu não sei mais o meu nome, eu me chamo Pátria. Façamos frente ao inimigo! Todos nós nos chamamos Paris, França, muralha!”
E nós, como nos chamaremos?

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