Daniel Quoist Geraldo Magela / Agência Senado

O discurso político da oposição hoje é torcer pelo fracasso do Brasil. Torcer pela volta dos ciclos inflacionários, torcer contra a copa, torcer contra...

À falta de propostas, ideias para novas políticas públicas inclusivas, personalidades carismáticas ou ao menos rejuvenescidas, encontram-se há muito flertando com tudo o que tem de pior para conquistar corações e mentes: torcer pelo fracasso do Brasil, torcer pela volta triunfal dos ciclos inflacionários, torcer por um retumbante fracasso da Copa 2014, torcer para que os médicos cubanos sejam um tremendo fiasco inassimilável por nossas populações vulneráveis, torcer para que a Petrobras e o Banco do Brasil tenham o mesmo sinistro destino de Eike Batista.

 
Preencher um discurso político na base da terra arrasada, associada ao grasnar de corvos agourentos não é tarefa fácil e, ao seu revés, não poderia ser também mais inglória. São em tempos assim que reputações calejadas pelo tempo soçobram, vão a pique e saem da História do tamanho de escafandristas de aquário doméstico.

As lideranças por não se renovarem tornam-se rapidamente obsoletas, ao invés de agregar, funcionam como desagregadores contumazes e, nesses casos, não existe pacto midiático que lhes possa robustecer - saem da realidade objetiva para se fincarem como simulacros de um tempo que passou.

É o caso do provecto do Fernando Henrique Cardoso, ler seus artigos é exercício enfadonho já que não surge uma só ideia nova - até os termos rescendem a catacumbas, à terra arrasada, a imagens de densas nuvens, pesados horizontes, incerto futuro, calamidades imprevistas sempre espreitando esse desavisadíssimo e incauto povo brasileiro.

É também o caso do senador Aécio Neves, aquele que foi atropelado por um trem que nem chegou a sair de minas, antes, partiu de São Paulo e, por essas ironias da vida, se chocou com helicóptero e sua carga letal. O mineiro tem um discurso monocórdio, cansativo, como se precisasse cuspir as palavras uma e outra vez, acenando sempre para um interlocução apática, insossa. 

E sem rosto. Ninguém consegue descobrir a quem se dirige seu palavreado vazio - aos associados da FIESP? Aos colegas de infortúnio que militam nas engrenagens da grande imprensa?  Aos ricaços abastados da capital paulista em sua luta contra o aumento do IPTU? Ou será que são ditas ao público interno do próprio PSDB, aqueles 30% de filiados que ainda crêem na reencarnação de José Serra para presidente? 

O governador Eduardo Campos teria tudo para ser uma real terceira opção eleitoral aos que cansaram do embate PT-PSDB. Mas traz consigo graves pecados de origem: qualquer que seja suas realizações políticas em Pernambuco, e por extensão alguns estados governados atualmente pelo PSB do neto de Miguel Arraes têm o DNA de Lula e/ou Dilma. 

Se errar na dose de acidez ou destempero para com o PT e seus líderes carismáticos facilmente receberá na testa o carimbo de ingrato - e se existe uma coisa que nordestino de raíz nunca foi de perdoar é exatamente... a ingratidão. Ademais, tem um cavalo de Tróia, melhor dizendo das Florestas, para domar e se os mais variados prognósticos estiverem certos, Campos arranjou para si mais problemas que soluções. 

É que um partido como o PSB não precisava servir de barriga de aluguel da Rede. Quando a criança (a Rede) conseguir seu registro no TSE, somente Marina Silva terá a ganhar. Além de passar todo o período eleitoral vendo pesquisas mostrando que a provável vice é muito melhor de voto que o cabeça de chapa. E, convenhamos, não tem vaidade que aguente.

Temos ainda na oposição parlamentares de uma possível "segunda divisão", uma espécie de  minilíderes mais afeitos a liderar não mais que seus berços políticos:

Jarbas Vasconcelos, do PMDB, de braços com o também pernambucano Eduardo Campos, um primor de infidelidade partidária.

Pedro Simon (PMDB-RS), sempre se remoendo contra o destino que desde os anos 1980 lhe tem sido além de ingrato, perverso, e ao revés foi generoso com José Sarney (PMDB-AP), sempre flertando entre o teatral e o grandiloquente.

José Agripino Maia (DEM-RN), assistindo a uma interminável missa de corpo presente de seu partido, com a única governadora - de seu RN - em vias de ser cassada pela Justiça Eleitoral e sangrado escandalosamente para dar sobrevida ao PSD de Kassab e ao Solidariedade de Paulinho da Força Sindical.

Roberto Freire (PPS-SP), uma espécie de linha auxiliar do PSDB, mas tendo não mais que alguns segundos de tevê a oferecer a quem se proponha ajudar. Nesse caso, até uma frase para destacar sua fragilidade eleitoral parece ser puro desperdício de análise política.

Ser ou não ser oposição ao PT?  Eis o dilema em toda a sua inteireza, comprimento, largura e altura. 
 
Estamos diante de um ciclo que morreu por inanição de ideias, pensamentos vigorosos, sinceridade no falar e falta de coerência na diuturna cobrança de posturas éticas. O Brasil mudou, mas certos tipos continuam ainda encantados com aquela estratégia do cara-de-pau: "Malfeitos devem ser investigados desde que do outro lado. Tá bem assim?

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