Via El País em 06/03/2016

Conforme a Operação Lava Jato vasculha nas contas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mais nítido se perfila um homem com um padrão de vida milionário e muito acima das possibilidades de um deputado comum. A mais recente denúncia contra Cunha, protocolada pela Procuradoria Geral da República na sexta-feira, traz uma radiografia das caríssimas preferências do peemedebista nas suas viagens internacionais com a família.

No documento, onde Cunha é acusado de receber mais de cinco milhões de reais em propinas por viabilizar a compra pela Petrobras de um campo de petróleo na África, afirma-se que os extratos das contas secretas na Suíça de Cunha demonstram “despesas completamente incompatíveis como os rendimentos lícitos declarados do denunciado e seus familiares”. Despesas que, segundo o procurador Rodrigo Janot, foram pagas com o dinheiro desviado da estatal.

Entre os gastos de Cunha, que já virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada sob a acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, chamou a atenção do procurador Janot a viagem a Miami de nove dias com a família no Réveillon de 2013. Entre 28 de dezembro e 5 de janeiro, Cunha gastou 42.258 dólares, cerca de 84.000 reais na época, e 169.500 reais na cotação atual. O salário de Cunha em 2012 era, segundo ele mesmo declarou, de 17.794 reais por mês.

Naquelas férias só em hospedagem há uma fatura de mais de 23.000 dólares. Destacam-se também os almoços e jantares em restaurantes de luxo cujas contas superaram os 6.000 reais. Um dos jantares em Miami Beach em 28 de dezembro, em um restaurante de comida asiática, superou os 1.000 dólares. No dia seguinte, o congressista foi às compras e desembolsou 2.327 dólares na loja Saks Fifth Avenue que vende artigos de grifes como Fendi, Valentino ou Yves Saint Lauren e 3.803 dólares na loja de grife Salvatore Ferragamo. Os dias de compras foram um plano recorrente durante essa viagem e repetiram-se despesas na Giorgio Armani (1.595 dólares) ou na Ermenegildo Zegna (3.531 dólares).

Um mês depois, Eduardo Cunha viajava a Nova Iorque e voltava a gastar na Salvatore Ferragamo mais 1.175 dólares, 909 dólares na loja da Apple Store e 1.668 no restaurante francês Daniel, chefiado pelo badalado chef Daniel Boulud. A conta de hotel no Hilton, no dia 12 de fevereiro de 2013, somou 2.761 dólares pela hospedagem de três dias.

Nesse mesmo dia, Cunha viajava a Zurique, na Suíça, onde os investigadores encontraram pelo menos cinco contas secretas no nome do deputado, da sua mulher Claudia Cruz, e da sua filha Danielle. Nessa viagem, do dia 12 ao dia 16 de fevereiro, Cunha gastou mais de 10.000 dólares em hospedagem em três hotéis diferentes.

O luxuoso rastro do deputado que se rebelou contra o Governo Dilma Rousseff no ano passado, quando rompeu publicamente com o Palácio do Planalto, se estendeu até Paris, onde gastou 2.500 dólares em um restaurante; em Barcelona, onde pagou 3.572 dólares em um hotel, e até na Rússia, onde liquidou uma conta de um restaurante de 3.000 dólares.

A lista de cinco páginas de despesas anexadas à denúncia parece não terminar nunca: 5.400 dólares na loja de Chanel em Nova York em setembro de 2013; 730 dólares em um bar de Veneza em março de 2014; ou quase 6.000 dólares por se hospedar em um hotel em Dubai em abril de 2014.

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