Em ato com sindicalistas, ex-presidente diz que cobrará responsabilidade do Congresso e aponta para política econômica que trará esperança

Via CUT


Como em todos os outros eventos em defesa da democracia que tomaram conta do país nos últimos meses, o auditório da Casa de Portugal também estava lotado na noite desta quarta-feira (23) para ouvir o que tinham a dizer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes sindicais.

Movimento sindical unido deu o recado: não vai ter golpe! (Fotos: Roberto Parizotti)


Diante de uma plateia com mais de mil sindicalistas representantes de todas as centrais do país e ao som de “Lula lá”, jingle de sua campanha em 1989, o ex-presidente trouxe um discurso que, além das conquistas, mirou, principalmente, a defesa da democracia.

Ele lembrou os canais de diálogo com os trabalhadores inexistentes antes de seu governo e do da presidenta Dilma Rousseff e apontou para uma política econômica com viés diferente da atual, passado o período de turbulência.

“Vou pedir ao Congresso, na semana que vem, seis meses de paciência para provar que esse país voltará a ser o país da alegria. Para discutir uma política que traga esperança”, afirmou Lula.

Ao chamar o Congresso para a responsabilidade de ajudar o Brasil a deixar a crise, o ex-presidente disse que pode ajudar com ou sem pasta no governo, mas reforçou que, neste momento, é necessário impedir um retrocesso irreversível à democracia. “A economia se resolve amanhã ou depois, porém, evitar o golpe é hoje.”

Lula disse que é preciso encerrar a política de cortes, mas destacou que ela tem ligação direta com o que receberam os empresários de desoneração. “Entre desoneração e isenção para incentivar mais empregos, deixamos de receber no caixa do governo quase R$ 500 bilhões. Qual sindicalista não ouviu empresário dizer que mão de obra está muito cara? Agora tá ficando barato outra vez, porque quando começa a ter desemprego, a primeira coisa que fazem é reduzir salário do trabalhador”, pontuou.

Segundo ele, a presidenta Dilma tem consciência que é preciso adotar outro modelo. “Estamos vivendo um momento em que Estado não tem recursos, municípios não têm recursos, banco não empresta e empresário não quer investir. E quanto mais corte anuncia, menos capacidade de investimento temos e mais corte tem de fazer. A presidenta Dilma tem consciência que não dá para continuar política econômica que não permita geração de emprego.”

Articulação

Seu papel, falou, seria justamente o de fazer pontes e traçar estratégias de desenvolvimento a partir do diálogo, inclusive com os reticentes em relação à Dilma. “Aceitei (ir para o governo) porque tenho plena consciência de como posso ajudar com aquilo que mais sei fazer, conversar: com mais rico, com mais pobre e fazer com que compreendam que teremos mais facilidade de governar se colocarmos em prática o que pensam as pessoas.”

Lula lembrou ainda os mecanismos de combate à corrupção criados em seu governo, como melhores condições de trabalho para a polícia federal, a Procuradoria Geral da República e o Portal da Transparência. “Não temos medo de investigação, de combate à corrupção, o que não queremos é pirotecnia com pessoas condenadas por manchetes de jornais antes de serem condenadas.”

Ao declarar-se enojado com o comportamento dos veículos que divulgaram conversas particulares suas que não acrescentavam nada à investigação da operação lava-jato, o ex-presidente também disse aos sindicalistas que cobrassem da força-tarefa, incluindo o Poder Judiciário, responsabilidade na investigação das empresas.

“Estão dizendo quando vai recuperar nessa operação, mas quero discutir quanto de prejuízo já deu para a economia, se não é possível combater corrupção sem fechar empresas e causar desemprego. Quando tudo isso terminar, pode ter muita gente presa, mas também muitos desempregados. Vocês têm que procurar força tarefa e perguntar se eles têm consciência do que está acontecendo nesse país”, sugeriu.

Para Lula, a politização da classe trabalhadora que o elegeu presidente estará agora em defesa da democracia. “Sou o resultado da consciência política dos homens e mulheres trabalhadores desse país. A evolução da consciência política de vocês fez com que perdessem o medo. Ganhamos as eleições pelo voto democrático do povo brasileiro e se querem ir para a presidência, esperem 2018. Não tentem dar o golpe na Dilma, não aceitaremos”, falou, aos gritos de “não vai ter golpe.”

Contra os trabalhadores

Na abertura, um vídeo mostrou mensagens de sindicalistas de todos os continentes em apoio a Lula, além do ator estadunidense Danny Glover, como parte da campanha #LulaValeALuta. O encontro também divulgou um manifesto da classe trabalhadora em defesa da democracia.

Para Vagner, golpe é atalho para retirada de direitos trabalhistas


Como destacaram o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, e o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, uma pequena amostra de mensagens que a Central recebe diariamente de vários países.

Para dirigentes como o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, o reconhecimento de que o reencontro do Brasil com o caminho do desenvolvimento passa pelo respeito à democracia e aos direitos trabalhistas contra os quais lutam os defensores do impeachment.

“Os mesmos que querem o golpe, querem acabar com carteira assinada, o 13º salário, colocar a terceirização indiscriminada e todo dia mandam deputado conservador no Congresso para tirar direito da classe trabalhadora. Peão que pensa com a cabeça do patrão é piolho, temos que defender nossos interesses e defender a democracia, o mandato da presidenta Dilma e que Lula possa ser ministro para construir o diálogo e o Brasil possa sair da crise”, defendeu.

Nesse processo, afirmou Vagner, os sindicatos tem o papel fundamental de conscientizar a classe trabalhadora em contraponto ao ataque da mídia em defesa da derrubada da presidenta. “O que impede golpe é colocar no jornal que trabalhador vai perder emprego. É ir para rua, politizar trabalhador que representa, ele consegue impedir o golpe.”

Além de Vagner, dirigentes da Intersindical, UGT, CSB, Nova Central e Força Sindical e CTB também falaram durante o ato. Acompanhe os principais momentos:

Ricardo Patah – presidente da UGT
“Estranho partir do movimento sindical a crença de que qualquer mudança vai nos beneficiar. Podem acreditar que com outro governo que possa vir o movimento sindical está fadado a quebrar, porque somente nós somos capazes de olhar pelos trabalhadores. Não podemos ser ingratos e virar as costas para quem mudou nesse país”

Edson Carneiro (Índio) – secretário Geral da Intersindical
“Rechaçamos essa intolerância e o caos nas ruas, levando ódio e abrindo portas para o fascismo. A prisão de Lula e a derrubada de Dilma são parte da ofensiva para colocar no Brasil um governo autoritário e para acabar com nossos direitos. O momento é de unidade e mobilização. Não adianta pensar que vão derrubar o governo e vamos nos calar.”

Álvaro Egea– secretário Geral da CSB
“Presidente Lula, queremos o senhor no governo para derrotar esse golpe e implementar a política de desenvolvimento e para recuperar o emprego. Conte com o apoio dos trabalhadores.”

Luiz Gonçalves (Luizinho) – presidente da Nova Central de SP
“Temos consciência que esse é o melhor governo que tivemos em todos os tempos e não poderíamos ficar em cima do muro e não nos posicionarmos a favor do ex-presidente Lula.”

João Carlos Gonçalves (Juruna) – secretário-geral da Força Sindical
“Esse momento é de garantir a democracia, a Constituição, de o companheiro Lula assumir ministério da Casa Civil, porque sabemos será elemento importante dentro do governo para defender causas populares. Às vezes um tranco é muito bom para gerar unidade na ação, de classe e o povo na rua.”

Adilson Araújo – presidente nacional da CTB
“Estamos diante de um Estado agudo da crise no qual a elite conservadora aposta todas as fichas na instabilidade política. A virada política permitiu novo curso do país e essa elite não engoliu a quarta vitória da classe trabalhadora. Estava desenhada a possibilidade de transição mais avançada na aliança com China, Índia e África do Sul em contraposição àqueles que geraram a maior crise da história. Antes que roubem nossos sonhos, sindicatos têm de se transformar em comitês de defesa da democracia.”

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