Por Flávio de Castro

Eu confesso que não sei a verdade: não sei se Lula é ou não dono de um triplex no Guarujá como não sei se FHC é ou não dono de um apartamento na Avenue Foch, em Paris.

Sei apenas que a presunção de ser dono de um triplex no Guarujá é inequivocamente associada à corrupção e a presunção de ser dono de um apartamento em Paris não tem nada a ver, obviamente, com corrupção.
Especialmente se o apê do Guarujá for um tanto novo-rico e o apê de Paris, um tanto elegante.

A questão é estética.
Lula carregando uma caixa de isopor e sendo dono de um barco de lata é uma cômica farofa. Se FHC carregasse uma caixa de isopor e fosse dono de um barco de lata seria uma concessão à humildade.

A questão é classista.
Um Odebrecht sentado à mesa com FHC é um empresário rico. O mesmo Odebrecht sentado à mesa com Lula é um pagador de propina.

Nada disso tem a ver com corrupção. Nada disso revela qualquer preocupação com o país.
A cada dia que passa, é mais evidente que o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.

E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque, simplesmente, a riqueza lhes cai bem.

A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. É o que estamos assistindo.

Tudo o mais, tudo o que não é casa grande é Lula e os amigos de Lula!

A questão é preconceito.
Vejam como um fraque cai naturalmente bem em FHC. Um fraque assim em Lula, certamente, deveria ter sido roubado.

O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático século XIX.

[FHC, por favor, levante a gravata do seu lado direito, está um pouco torta; isso, perfeito!]

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