Por Paulo Nogueira via DCM em 11/01/2016
O primeiro disco de vinil que comprei, aos 16 anos, foi The Rise and Fall Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, de David Bowie.
Ouvi este disco, às vezes mais e às vezes menos, a vida toda. Entra em qualquer lista curta dos maiores do rock.
Nem preciso dizer, assim, quanto me entristeceu a notícia da morte de Bowie, neste domingo, aos 69 anos.
Mas é sobre um aspecto paralelo que quero tratar.
As manifestações de pesar logo se multiplicaram. A primeira de impacto veio de Ricky Gervais, pouco tempo depois de ter apresentado o Globo de Ouro.
Eram muito amigos. “Perdi um verdadeiro herói”, disse Gervais no Twitter.
Muitos outros roqueiros e artistas expressaram sua dor. Mas fui ler com mais atenção as palavras da chamada voz rouca das ruas, nos comentários dos artigos sobre a morte.
Foi emocionante.
O tom geral era de agradecimento a Bowie por tantas coisas boas que ele proporcionou a todos por todos estes anos. Bowie musicou memórias de várias gerações. Se eu fosse resumir o que as pessoas diziam seria assim: “Obrigado por haver existido, David.”
E então chego ao ponto que eu queria fazer.
A diferença entre uma sociedade que cultua seus heróis e uma sociedade que os deixa expostos a agressões de vândalos.
Me veio à cabeça o ataque a Chico no Leblon, poucas semanas atrás.
É doente uma sociedade em que um playboy inútil que vive do dinheiro da família se acha no direito de dizer para Chico, à queima roupa, que ele é um “merda”.
Isso porque o playboy não concorda com as ideias políticas de Chico. Chico está com o povo e o playboy, claramente intoxicado pelo noticiário envenenado da mídia, com a plutocracia.
Num mundo menos imperfeito, o playboy aproveitaria a chance de topar com Chico na noite carioca para agradecer a ele por tantas coisas boas que ele criou. Tiraria selfies com Chico e as mostraria orgulhoso a seus pais. Certamente em algum momento eles namoraram ouvindo Chico.
Poderia até dizer que discorda das posições políticas de Chico, mas em tom civilizado, tolerante, democrático, e entre risos. Mas deixaria claro que o importante ali era reconhecer a grandeza do maior compositor da história da MPB.
Mas nosso mundo está longe de ser perfeito, e aconteceu o que todo mundo sabe.
Pensei em Bowie, nesta manhã triste, e pensei também em Chico.
E vi que nossa sociedade está doente.
Ouvi este disco, às vezes mais e às vezes menos, a vida toda. Entra em qualquer lista curta dos maiores do rock.
Nem preciso dizer, assim, quanto me entristeceu a notícia da morte de Bowie, neste domingo, aos 69 anos.
Mas é sobre um aspecto paralelo que quero tratar.
As manifestações de pesar logo se multiplicaram. A primeira de impacto veio de Ricky Gervais, pouco tempo depois de ter apresentado o Globo de Ouro.
Eram muito amigos. “Perdi um verdadeiro herói”, disse Gervais no Twitter.
Muitos outros roqueiros e artistas expressaram sua dor. Mas fui ler com mais atenção as palavras da chamada voz rouca das ruas, nos comentários dos artigos sobre a morte.
Foi emocionante.
O tom geral era de agradecimento a Bowie por tantas coisas boas que ele proporcionou a todos por todos estes anos. Bowie musicou memórias de várias gerações. Se eu fosse resumir o que as pessoas diziam seria assim: “Obrigado por haver existido, David.”
E então chego ao ponto que eu queria fazer.
A diferença entre uma sociedade que cultua seus heróis e uma sociedade que os deixa expostos a agressões de vândalos.
Me veio à cabeça o ataque a Chico no Leblon, poucas semanas atrás.
É doente uma sociedade em que um playboy inútil que vive do dinheiro da família se acha no direito de dizer para Chico, à queima roupa, que ele é um “merda”.
Isso porque o playboy não concorda com as ideias políticas de Chico. Chico está com o povo e o playboy, claramente intoxicado pelo noticiário envenenado da mídia, com a plutocracia.
Num mundo menos imperfeito, o playboy aproveitaria a chance de topar com Chico na noite carioca para agradecer a ele por tantas coisas boas que ele criou. Tiraria selfies com Chico e as mostraria orgulhoso a seus pais. Certamente em algum momento eles namoraram ouvindo Chico.
Poderia até dizer que discorda das posições políticas de Chico, mas em tom civilizado, tolerante, democrático, e entre risos. Mas deixaria claro que o importante ali era reconhecer a grandeza do maior compositor da história da MPB.
Mas nosso mundo está longe de ser perfeito, e aconteceu o que todo mundo sabe.
Pensei em Bowie, nesta manhã triste, e pensei também em Chico.
E vi que nossa sociedade está doente.
Triste e verdadeira a afirmação final. Triste por ser verdadeira. Todo o texto transpira tristeza e verdade. Começamos mal, 2016.
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