O golpe da carta (temos algo a Temer?)
Por Jean Wyllys via Facebook em 08/12/2015
A carta que “vazou” para a imprensa teria sido escrita, supostamente, do vice-presidente Michel Temer para a presidenta Dilma Rousseff, um documento “confidencial e pessoal”. Mas, vejam só, macacos velhos na comunicação nunca viram uma carta pessoal feita para ser manchete se o objetivo não fosse esse.
A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo contrário, é “bombástica” no estilo, conteúdo e formato, exatamente como aquelas em geral abertas para a imprensa.
Leiam e percebam a construção do texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo!
O vice-presidente, um velho operador político do PMDB que estes anos todos foi muito bem pago pelo poder público para atuar como garantia da coligação desse partido com o PT (coligação cujo custo o PT está pagando), acha que ninguém vai perceber que, se o problema dele fosse a “desconfiança” da chefe Dilma com relação a ele e ao PMDB, seu partido, ele deveria ter enviado essa carta há uns bons anos, né não?
Ela está chegando muito atrasada porque tem, na verdade, outro objetivo: deixar bem claro que Temer está disposto a assumir a Presidência.
É uma mensagem para a bancada do PMDB no Congresso, para a oposição de direita que poderia compor um governo de transição com ele, para os jornais, para os mercados e, talvez, para o próprio PT, que entenderá que o preço para evitar tudo isso será caro, muito mais caro ainda do que foi, até agora, a “lealdade” dos seus supostos aliados.
Percebam que Temer “corta na carne” e cita negativamente Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, que se aproximou do governo do PT e se coloca cada vez mais frontalmente contra Eduardo Cunha (PMDB), desde que o presidente da Câmara tentou cortar suas asas no seu reinado.
A luta interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil!
O jornal O Globo, insuspeito de governismo, admitiu pela boca de Waack que o governo está “destruindo o que há de base jurídica para o impeachment”.
Mas a questão não é essa: esse impeachment não tem a ver com as pedaladas fiscais (e muito menos com os verdadeiros defeitos desse governo, que provocaram sua perda de popularidade); não é isso que o motiva, mas apenas uma luta pelo poder protagonizada por uma facção política que despreza a democracia, liderada por um bandido com contas na Suíça.
Em entrevista nessa segunda-feira, Cunha disse que o Brasil passa por um problema grave e relacionou isso com o fato de que há “crises internas nos partidos”.
Essas crises internas (a luta descontrolada pelo poder que ele, Temer e outros protagonizam) estão passando por cima das instituições, da Constituição e das regras de jogo democráticas.
Será que, depois de chantagear o governo do PT para evitar sua cassação no Conselho de Ética da Câmara, ele resolveu chantagear os próprios parlamentares do PMDB que estão se dividindo quanto à ideia de emplacar um impeachment a qualquer custo? (leia-se: um golpe branco, pressionado pelo poder das grandes corporações e do grande capital).
O cenário político inspira estado de alerta para movimentos sociais, ONGs, associações políticas, sindicais e para a população em geral.
Precisamos ficar atentos à manutenção inegociável das instituições democráticas.
Não se trata de defender o governo Dilma, que é indefensável por muitos motivos.
Trata-se de defender a democracia e de impedir que a quadrilha que já tomou o parlamento, impondo uma agenda conservadora e fascista de retrocesso civilizatório e perda de direitos, tome totalmente o poder institucional e nos afunde num período sombrio e perigoso no qual todas as liberdades e todas as conquistas sociais do Brasil pós-ditadura podem estar em perigo.
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