filho de lula
Posted by on 29/11/15 • Categorized as Reportagem
do Blog da Cidadania

A forma como a mídia apresentou conclusão descabida e maliciosa da Polícia Federal sobre o filho do ex-presidente Lula Luíz Cláudio dá a entender que ele teria entregado uma cópia de material da Wikipédia à empresa M&M em troca de 2,4 milhões de reais.

É uma maluquice. Significa que apesar do valor do negócio, a empresa do filho do ex-presidente sequer se deu ao trabalho de contratar alguém – por uma fração mínima do montante auferido – para produzir alguma coisa mais elaborada.

Ninguém seria tão estúpido. Basta um mínimo de bom senso para perceber que há alguma coisa estranha nessa história.

Começa pelo fato de que, a cada reprodução da reportagem do Jornal Nacional que fez essa denúncia, a história vai sendo cada vez mais distorcida. A reportagem relata conclusão da PF de que “partes do trabalho foram copiadas da internet, em especial do site Wikipédia”.

Na versão que se espalha, porém, o trabalho todo que a LFT Marketing Esportivo, de Luís Cláudio Lula da Silva, prestou à M&M teria sido integralmente extraído da enciclopédia eletrônica.
Como dizem, quem conta um conto aumenta um ponto…

Mas é isso mesmo, o trabalho foi “chupado” integralmente da internet? O que o acusado tem a dizer sobre isso? Como pode uma acusação dessa gravidade, feita em quase cinco minutos de reportagem, não conter o contraponto, o famoso “outro lado”?

O Blog foi atrás de ouvir esse “outro lado”, que, apesar de não parecer, existiu. E contém explicação que, se fosse veiculada pelo telejornal da Globo e pelas outras matérias da imprensa antipetista, permitiria ao menos o benefício da dúvida ao ex-presidente e seu filho.

Em primeiro lugar, vamos entender que o que a PF diz ter sido “o trabalho” da LFT Marketing Esportivo para a Marcondes & Mautoni, de Mauro Marcondes, empresário preso na Operação Zelotes, não é

TODO o trabalho e, sim, apenas uma apresentação do trabalho que seria desenvolvido.
Repito: os 2,4 milhões de reais pagos à LFT não decorreram do material que a PF analisou, que foi apenas um briefing, uma apresentação do trabalho que seria prestado.

De acordo com a divulgação de trechos do relatório do IPL nº 1.424/15-4 revelados pela imprensa, a Polícia Federal criticou a qualidade dos trabalhos realizados para a Marcondes & Mautoni pela LFT Marketing Esportivo Ltda, de propriedade de Luís Cláudio Lula da Silva.

Segundo o advogado de Luíz Cláudio, Cristiano Zanin Martins, os relatórios entregues espontaneamente por Luís Cláudio à PF são “apenas uma parte da prestação de serviço contratada pela M&M, e não seu todo”.

Por que foi feita essa armação? Simples: porque a Polícia Federal e o Ministério Público não conseguiram apontar qualquer conduta ilegal de Luís Cláudio em relação aos assuntos investigados na chamada “Operação Zelotes”, mesmo tendo aberto, de modo ilegal, diversos procedimentos investigatórios e recorrido a medidas invasivas já reconhecidas por desproporcionais e ilegais pela Desembargadora Neusa Alves, do TRF da 1ª. Região.

Os fatos relacionados à “Operação Zelotes” são objeto de investigação do MPF através do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) nº4, de 24 de abril de 2014. A despeito disso, a PF instaurou o IPL nº 1.424, em 23 de outubro de 2015, com o mesmo objeto.

Para quem não sabe, não é legal a existência de vários inquéritos para tratar do mesmo objeto. Isso é uma aberração jurídica. Ainda assim, em ambos os procedimentos Luís Cláudio está sendo instado a apresentar as mesmas informações.

Seja como for, a ausência de elementos contra o filho de Lula fez com que o inquérito fosse concluído sem que houvesse qualquer elemento para o indiciamento do acusado.

Sim, é isso mesmo que você leu: a afirmação de que o filho de Lula extraiu da Wikipédia o material pelo qual a M&M teria pago 2,4 milhões de reais foi feita no âmbito da conclusão do inquérito que teria apurado esse “fato”, e esse inquérito foi concluído sem indiciar o filho de Lula.

É mole ou quer mais, leitor? Quer mais? Então vamos lá.
Em primeiro lugar, o material produzido pela LFT para a fase dos trabalhos que prestou à M&M e que foi analisado pela PF não se trata de obra concluída. O material que a PF analisou foi feito para avaliar e traçar cenários de mercado e tendências, considerando o objeto da contratação.

Todavia, foi interrompido o fluxo do trabalho por dificuldades enfrentadas pela contratante, a M&m, já que seu proprietário foi preso pela Operação Zelotes. O trabalho no valor de 2,4 milhões de reais, se fosse totalmente desenvolvido, seria muito maior e mais complexo.

Antes de mais nada, há que explicar que o know-how da LFT e da Touchdown Promoções de Eventos Esportivos Ltda – outra empresa de Luís Cláudio – e a compatibilidade dos valores por estas movimentados no seu mercado setorial foi objeto de análise e parecer do Professor Carlos Roberto Ferreira Ayres, da LA Consultores, e professor de Finanças Empresariais e de Mercado Financeiro das Faculdades de Economia e Administração de Empresas da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP).

O trabalho da consultoria em questão comprova que duas empresas do filho de Lula são pioneiras na promoção e patrocínio do Futebol Americano no Brasil.

O estudo em questão revela que a LFT e Touchdown têm potencial para a exploração de um mercado avaliado em US$ 20 bilhões em 2013, nos Estados Unidos, e de cerca de US$ 1,26 bilhão anuais no País, o que equivaleria a 30% apenas do potencial de patrocínio projetado para a América Central e do Sul, com base na estimativa da empresa norte-americana IEG LLC.

Pelo Relatório da IEG (Sponsorship Report), especializada em informações estratégicas de marketing, o futebol americano fica com 70% das verbas globais de patrocínioOs trabalhos da LFT para a M&M voltaram-se a explorar exatamente esse potencial.

A defesa de Luiz Cláudio apresentou às autoridades o teor completo do que seria o trabalho da LFT para a M&M, mas, claro, a nossa “gloriosa” mídia antipetista não se preocupou em oferecer tais informações ao público.

Confira abaixo, portanto, em que consistiria o trabalho a ser prestado pela LFT à M&M:

Estudo 1
Focou a estratégia de associar uma marca/empresa ao esporte, como fator gerador de grande impacto público. O estudo apontou as diversas vantagens das empresas em patrocinar esportes, tais como “alternativa à mídia convencional”, “reforço ou construção da imagem institucional”, “segmentação do público-alvo”, “rejuvenescimento da imagem”, “diversificação das metas estratégicas de propaganda” etc.

O estudo mostrou também a necessidade de serem observadas diversas fases até a implantação do projeto de associação da marca ao esporte, tais como: “escolha dos líderes” – exemplos de personalidades e o perfil de cada uma (inspirador, autoritário, coercitivo, paternal etc); importância da “comunicação e divulgação, indicado os diversos meios; escolha do torneio, e, ainda, a realização de “avaliação final”;

Estudo 2
Tratou das oportunidades das Olimpíadas de 2016, no âmbito do marketing esportivo. Abordou características do Rio de Janeiro e do megaevento, detendo-se nos legados que resultarão das Olimpíadas e seus impactos. Apontou patrocinadores e apoiadores do evento, os “pacotes de mídia” existentes e o papel das mídias sociais.

A partir desse quadro, delinearam-se as oportunidades efetivas geradas pelo megaevento e a possibilidade de criar “legado proprietário”, a criação da “casa dos países”, de forma que “as montadoras internacionais consigam utilizar desde o começo o processo das olimpíadas e consolidar a percepção de que as melhores marcas se fazem presentes;

Estudo 3
Verteu sobre a avaliação da “viabilidade de ações de patrocínio das arenas construídas para a Copa do Mundo”. O trabalho envolveu uma análise sobre as múltiplas funções de uma arena. Alguns dados geográficos e demográficos para o estudo são públicos e estão presentes na internet.

Também foi abordada a média de público em cada arena nos torneios nacionais realizados em 2014. Enfrentou-se, também, as experiências de outros países no uso de arenas construídas para alguns eventos esportivos;

Estudo 4
Abordou o impacto da Copa do Mundo no desempenho de empresas patrocinadoras, descrevendo o que deve “servir de exemplo e referência” para qualquer companhia interessada nesse tipo de apoio. Destacou os fatores macro e microeconômicos que são determinantes no processo de patrocínio.

O trabalho abordou a “Trajetória da imagem da Copa do Mundo no Brasil”, citando pesquisa Datafolha realizada em 2008, um ano após o País ser indicado como sede do evento. O estudo avaliou a trajetória da percepção dos brasileiros, que apoiaram e depois rejeitaram a iniciativa.

E, ao final, fez a conexão com o segmento automobilístico, mostrando que a cadeia de valor dessa indústria tem potencial para colher os benefícios de grandes patrocínios considerando:

1. o fato de o automóvel estar vinculado aos consumidores no universo dos desejos;

2. existir intrinsecamente um desejo de compra do bem pelos consumidores;

3. os grandes centros urbanos serem foco de consumo de veículos e de informação esportiva;

4. as concessionárias poderem ser pontos de apoio e territórios esportivos colhendo os benefícios do fluxo de consumidores.

A Touchdown – promotora do Futebol Americano – e a LFT, especializada em ferramentas de marketing esportivo, são as duas maiores empresas no segmento brasileiro, em desenvolvimento.

Do torneio promovido pela Touchdown participam Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo, Santos, Corinthian e Portuguesa. Fazem ainda parte dos campeonatos regionais o Juventude (RS), T-Rex (SC), Vila Velha – Tritões (ES) e Tubarões do Serrado (DF). Times de inquestionável expressão em seu setor.

Dada a força do mercado no torneio administrado pela Touchdown, nada mais natural “que os investimentos em marketing esportivo voltados ao futebol americano se concentrem na LFT, face a natural complementaridade entre as atividades das duas empresas”, diz Carlos Ayres, autor do estudo feito para sustentar a lisura da atividade das empresas do filho de Lula.

A defesa de Luíz Clúdio informa, também, que os valores recebidos por seu cliente enquadram-se nas faixas de atuação em seu mercado e ele já informou à PF que destinou expressiva parte do montante recebido à realização dos Torneios Touchdown.

Luiz Cláudio pode provar isso, segundo sua defesa. Ou seja: os 2,4 milhões não foram pagos em troca de um papelucho copiado da internet, como quer fazer a matéria da Globo e as que repercutem essa tese maluca.

Mas o mais importante é que essa celeuma toda foi feita sem que tivesse havido indiciamento de Luíz Cláudio. Ora, dada a forma como a história da Wikipédia foi apresentada, no mínimo o inquérito onde essa versão surgiu deveria ter sido concluído com o indiciamento do acusado, mas não foi o que ocorreu.

A história da Wikipédia, no entender da defesa de Luíz Cláudio, não passa de uma vingança da PF por não ter conseguido reunir prova alguma contra o acusado que permitisse seu indiciamento. Assim, esse setor da PF teria optado por causar um “prejuízo de imagem” não o filho de Lula, mas ao pai dele.

Além disso, a intenção da PF teria sido oferecer um elemento para abrir mais uma investigação, apesar das outras em curso, apesar de que todas deveriam estar reunidas em um processo só, de acordo com a lei.

A fonte que conversou com o Blog deu uma explicação prosaica, porém muito eloquente, para essa aparente armação que procura transformar em escândalo uma investigação que foi concluída sem dar em nada:

“O show tem que continuar”

PS: conheça o trabalho das empresas do filho de Lula em matéria do jornal O Globo que você pode ler clicando aqui

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