Globo
mandou remover todas as citações a Fernando Henrique Cardoso em
reportagens sobre a Lava Jato. Proibiu-se também a divulgação da
denúncia da revista Época (do próprio grupo) contra Gilmar Mendes. Que
primor de “isenção”! Na raiz de todo acirramento da mídia estão
problemas financeiros provocados por épocas de transição tecnológica.
Foi assim nos anos 20, com o advento do rádio; nos anos 50, com o início
da TV; nos anos 60, com a crise financeira dos jornais. E agora. É uma
questão de vida ou de morte: ou empalmam o poder ou tornam-se
irrelevantes. É por aí que se entende a campanha da mídia em busca do
impeachment.
Globo mandou remover todas as citações a FHC em reportagens sobre a Lava Jato
Os
vícios do modelo político brasileiro afetam todos os partidos. Mais
ainda o governo FHC com a compra de votos e as operações ligadas ao
câmbio e à privatização. A gestão Joel Rennó foi das mais controvertidas
da história da empresa. Ao tornar o noticiário seletivo, os
grupos de mídia conspiram contra o direito à informação, centrando todo o
fogo em uma das partes e blindando todos os malfeitos dos aliados.
Ontem, a diretora da Central Globo de
Jornalismo, Silvia Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo
com o seguinte conteúdo:
“Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato
Atenção para a orientação
Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.
O recado se deveu ao fato da reportagem
ter procurado FHC para repercutir as declarações de Pedro Barusco – de
que recebia propinas antes do governo Lula.
No Jornal Nacional, o realismo foi maior. Não se divulgou a acusação de Barusco, mas deu-se todo destaque à resposta de FHC (http://migre.me/oyiwP)
assegurando que, no seu governo, as propinas eram fruto de negociação
individual de Barusco com seus fornecedores; e no governo Lula, de
acertos políticos.
Proibiu-se também a divulgação da denúncia da revista Época (do próprio grupo) contra Gilmar Mendes.
Que primor de “isenção”!
O jogo da manipulação da informação
No
Estadão, a perspectiva de um racionamento inédito de água, assim como
as repercussões na saúde e na economia, é tratado da seguinte maneira.
Se não vierem chuvas até março, a SABESP
finalmente adotará o racionamento. Era essa a posição da empresa desde o
ano passado e foi impedida pelo governador Geraldo Alckmin.
Só após a posse do novo presidente,
Jerson Kelman, a SABESP conseguiu romper com os vetos de Alckmin ao
racionamento. Respeitado internacionalmente, Kelman assumiu declarando
que crises de água precisam ser tratadas com coragem e racionamento.
Segundo a matéria do Estadão, “A pedido
do governador Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da SABESP Jerson
Kelman definirá até o fim da semana um nível mínimo de segurança do
Sistema Cantareira”.
A total falta de atitudes de Alckmin é
convertida em “monitoramento diário”. Algumas reportagens relataram o
fato da única atitude de Alckmin consistir em consultar um aplicativo de
tempo no seu celular, para torcer pela chegada das chuvas.
Na reportagem do Estadão, essa
demonstração de amadorismo, de um governador sem nenhum conhecimento de
questões hídricas monitorar “pessoalmente” as chuvas, converte-se em uma
prova de responsabilidade: ”O quadro hídrico vem sendo monitorado
pessoalmente pelo governador e sua equipe diariamente e debatido em
reuniões que acontecem a cada dois dias no Palácio Bandeirantes”.
Na home do Estadão, uma reportagem
especial sugere que a responsabilidade pela crise é do prefeito Fernando
Haddad que deixou de aplicar um programa de despoluição da Billings. O
título na home é “Governo Haddad deixou de investir R$ 1,6 bi em
represas”.
Na matéria interna, esclarece-se que os
problemas são a não liberação de recursos pelo PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) e o fato dos valores de licitação do programa
– feitos na gestão Kassab – incluírem insumos (como asfalto e cimento)
em valores acima do teto estabelecido pela Caixa Econômica Federal.
Crise financeira E GOLPISMO MIDIÁTICO
Na
raiz de todo acirramento da mídia estão problemas financeiros
provocados por épocas de transição tecnológica. Foi assim nos anos 20,
com o advento do rádio; nos anos 50, com o início da TV; nos anos 60,
com a crise financeira dos jornais. E agora.
Do ponto de vista financeiro, tem-se a seguinte situação:
1. No ano passado, pela primeira vez
a Rede Globo fechou no vermelho. A empresa está revisando todo seu modo
de produção, acabando com os contratos permanentes com artistas, que
eram mantidos no cast, muitas vezes sem aproveitamento, apenas para não
serem contratados por competidores. O quadro está tão complicado, que a
ABERT (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão) levantou
o veto que tinha em relação à TV digital, vista agora como uma forma de
faturamento suplementar
2. A Editora Abril está se esvaindo
em sangue. O valor do vale refeição caiu para R$ 15,00, que só cobre o
preço do refeitório instalado no prédio. Há informações de que até o
refeitório será desativado nos próximos dias. As redações estão abrindo
mão de jornalistas experientes, sendo trocados por novatos sem grande
experiência.
3. O Estadão está há tempos à venda.
4. A Folha caminha para ser, cada vez mais, uma editoria da UOL.
É uma questão de vida ou de morte: ou
empalmam o poder ou tornam-se irrelevantes. É por aí que se entende a
campanha da mídia em busca do impeachment.
governo entrará na batalha da comunicação?
Mesmo
com todo o poder de fogo, sozinhos os grupos de mídia não conseguem
criar um mundo virtual. Ainda mais nesses tempos de redes sociais, o
enfrentamento precisa ser dado através de uma estratégia de comunicação -
que também não é algo feito no ar. Ela precisa estar subordinada a uma
estratégia política, à identificação dos pontos nevrálgicos do
noticiário, ao tratamento antecipado de todo tema sensível, à criação da
agenda positiva.
De qualquer modo, na primeira reunião
com seu Ministério, Dilma já definiu sua estratégia de comunicação.
Juntou os Ministros e ordenou a eles mais ou menos o seguinte:
- Vocês precisam entrar na batalha de comunicação.
Eles perguntam: Como?
E ela responde, mais ou menos assim: Virem-se.
Fonte: Jornal GGN, Luiz Nassif, 08/02/2015
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