Erick da Silva
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Todas e todos que assistiram nesta última quinta-feira (16/10) no SBT o debate presidencial constataram que este foi o mais agressivo embate entre os candidatos até o momento neste pleito. Alguns lamentaram o tom áspero que o mesmo assumiu, por não ter aprofundado-se em "propostas para o Brasil". Sem dúvida, seria desejável que houvesse uma confrontação de ideias onde os projetos de país fossem aprofundados, deixando ainda mais explícito as diferenças políticas entre as duas candidaturas. Ainda temos uma parcela razoável de eleitores que não tem essa compreensão e seguem flutuando sem saber em quem votarão ou mesmo se irão votar.

Mas também houve aqueles que regozijaram-se com o enfrentamento aberto, por entender ser este o momento para o embate frontal e direto. Pois esta seria a hora de não mais confrontar as generalidades de propostas (em geral apresentadas de maneira vazia e superficial pelos marqueteiros), mas sim as diferenças entre as trajetórias de cada candidato e explorar os seus "telhados de vidro".

São duas avaliações opostas que não iremos adentrar, mas que possuem certa lógica e razão de ser.

Agora, o que mais chamou a atenção foram algumas reações grotescas que seguiram-se a repercussão do debate, principalmente sobre o mal-estar sofrido pela Presidenta Dilma na entrevista a uma repórter do SBT ao final do programa.

Por meio da sua conta no Twitter a presidenta comentou o ocorrido: "Tive uma leve queda de pressão, mas estou muito bem. Quero agradecer a preocupação de todos vocês".

Mas a narrativa construída por apoiadores da candidatura Aécio nas redes e na imprensa seguiu outro itinerário. O jornalista do Globo, Ricardo Noblat, utilizou-se desta debilidade física da presidenta de maneira perversa, como se ela tivesse sido “nocauteada”, uma monstruosidade para quem, com isso, quer sustentar uma suposta vitória de Aécio no debate:

“O debate acabou com Dilma nocauteada. Não é força de expressão. Desorientada, como se não soubesse direito onde estava e o que lhe aconteceu, Dilma perdeu a voz ao responder à pergunta de uma repórter do SBT”.

Não comentarei aqui a série de comentários e postagens de apoiadores anônimos que pululam pela rede. Este terreno há muito tempo é povoado pelo “esgoto humano”, protegidos pelo anonimato, destilam o que de pior a alma humana pode produzir. É um debate de surdos que não merece que gastemos nossas energias.

Mas a surpresa maior não é ver o Noblat, a Veja e cia explorarem desta forma desumana a queda de pressão da presidenta, o mais grotesco é ver o próprio candidato Aécio explorar, de forma imediata este ocorrido. A transcrição do diálogo de Aécio com a Marina Silva, flagrado pela Folha de S. Paulo, ao final do debate do SBT, comemorando a queda de pressão de Dilma Rousseff é absurda.

"Deu o desespero. Viu que ela passou mal?’, disse Aécio a Marina Silva.

A presidenta Dilma é uma senhora de 67 anos, que recentemente superou uma dura batalha contra o câncer e que tem sofrido o desgaste físico de uma campanha eleitoral em um país de dimensões continentais como o Brasil. Transformar uma fragilidade física em uma "vitória política" de Aécio é de uma vilania injustificável.

Aécio é um sujeito que só teve facilidades em sua vida. Filho e neto de políticos, ganhou emprego ainda jovem como assessor parlamentar. Depois, foi nomeado para um banco público. Sempre protegido por papai e vovô. Nunca enfrentou grandes dificuldades em sua vida.

Nada parecido com a trajetória de Dilma – que viveu clandestina durante a ditadura, foi presa e torturada.

Aliás, raras vezes vemos a imprensa mencionar que os problemas de dicção da presidenta, mais nítidos nos debates, são frutos das várias seções de socos que ela sofreu no maxilar, como ela própria relatou em outubro de 2001, durante depoimento ao Conselho Estadual de Direitos Humanos de MG:

"Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente".

Infelizmente, o debate do SBT revelou mais uma face abjeta e repugnante de nossa direita brasileira.

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