247 – Duas das maiores apostas editoriais da revista Veja, publicação semanal do Grupo Abril, estão dando novos vexames. A primeira, o empresário Eike Batista, que foi retratado como o maior exemplo de empreendedorismo do Brasil, vai, tecnicamente, assumir a quebra de duas das mais emblemáticas companhias do Grupo X nos próximos dias.

Conforme adiantou 247 na semana retrasada, o mercado já dá como certo que a petroleira OGX e o estaleiro OSX entrarão com pedidos de recuperação judicial. Na prática, serão duas concordatas, que garantirão às empresas o não pagamento de compromissos assumidos com fornecedores, acionistas e credores. Coisa de bilhões de reais em dívidas junto a bancos e ao mercado. Um papelão para aquele que Veja chamou de Eike Xiaoping, a quem os brasileiros deveriam seguir.

Igualmente foi bufão o presidente do STF, Joaquim Barbosa. Ele que foi o principal conferencista da assembleia da Associação Interamericana de Imprensa (Iapa), em maio, em Santo Domingo, mostrou, mais uma vez, que não gosta de repórteres – à exceção, talvez, dos que trabalham para a revista Veja.

Na semana passada, Barbosa fez uma palestra na Universidade de Yale. Entre as exigências, a ausência de jornalistas no auditório. Não se sabe exatamente o que o presidente do STF temia, além de perguntas objetivas, mas o certo é que sua atitude motivou a prisão por cinco horas de uma das principais correspondentes brasileiras no exterior, a jornalista Claudia Trevisan, do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois de cumprir todas as formalidades de credenciamento, Claudia entrou no campus de Yale para chegar ao local da conferência. No percurso, foi barrada e presa, sob alegação de descumprimento de determinação policial. Essa determinação era, exatamente, o cumprimento do desejo de Barbosa, de não ter repórteres em seu raio de visão.

Quem leu a capa O Menino Pobre que Mudou o Brasil, de Veja, não poderia ter se surpreendido mais. Do perfil dele sobressaiu um campeão da democracia e dos bons costumes, valente diante dos poderosos, originário da base da sociedade e, portanto, compreensivo com os humildes.

Desde então, o verdadeiro Barbosa, aquele que Veja nem chegou perto de mostrar os seus leitores, gastou quase R$ 100 mil em verbas públicas para reformar os banheiros de seu gabinete no STF, mandou outro jornalista do Estadão "chafurdar no lixo" e, agora, prefere as palestras sem a presença de profissionais da mídia. Até aqui, não se conhece qualquer gesto de solidariedade dele pelo constrangimento a que foi submetida Claudia Trevisan, quanto mais um pedido formal de desculpas.

Pela repetição em endeusar personagens que, do ponto de vista ideológico, pensam como os donos do Grupo Abril, os irmãos Gianca e Titi Civita, é Veja quem deveria pedir desculpas ao seu público. Os perfis de Eike e Barbosa mostraram homens que eles, simplesmente, não são.

Muito menos que um gigante do capitalismo, capaz de estimular o povo a enriquecer, Eike Batista é um anão de grandes jogadas fracassadas. Ele está sendo investigado pela Comissão de Valores Mobiliários, o xerife do mercado de ações, por ter induzido a erro milhares de pequenos investidores, que perderam milhões com o derretimento das ações de suas companhias.

 A OGX, por exemplo, teve seus papeis cotados a R$ 21, graças a expedientes de divulgação como a capa de Veja. Na sexta-feira 27, cada ação valia tanto quanto uma bala de hortelã, menos de R$ 0,50.
Barbosa é outro que foi apresentado como alguém que nunca foi. Humilde, quem assistiu às transmissões do julgamento da Ação Penal 470 sabe que ele jamais se mostrou. Democrata, condição que deveria constar de sua qualidades como brasileiro que "mudou o país", ele comprova a cada entrevero com jornalistas que nem sempre – ou quase nunca – é.

Bem mais forte que o antigo compromisso de publicar notícias verdadeiras está em vigor em Veja, nos últimos anos, a lei do vale tudo ideológico, pela qual são promovidos os pensam igual aos seus patrões e detratados os demais. Perde quem apostar que Veja vai se emendar.

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